quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Retorno

Não voltes...
O tempo é passado
A esperança fez-se pedra
E revestiu a estrada
Por onde a solidão desfila
Senhora e soberana
Da minha alma

Não voltes...
A angústia da espera
Foi longa demais
O sonho de amar-te
Transformou-se em prisão,
Onde minha mente
Mantém-se enclausurada

Não voltes...
A ausência de teu corpo
Fez do desejo ardente
Indiferença e anteparo
O anseio desfez-se em cinzas
Levadas pelo vento
Do indistinto e do desinteresse


Não voltes...
Pois se voltares
Breve e certamente
De novo partirás
E não é dado a um coração
Morrer duas vezes numa
Mesma existência

ZuleideZhu
(Das coisas muito mais...)



quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Ecos

Todas as noites, no quase dia
Minha alma busca sustento para o coração
Nas tuas lágrimas banha-se minh'alma
Em cantos tristes e solidão
Todas as noites, no quase dia
Meu corpo sedento busca alimento
Junto aos sons de tua canção
Buscando melodias para compor
A sinfonia dos dias que virão...
ZuleideZhu


 

Cíclica

A noite chega mansa
E traz lembranças indeléveis de você.
A madrugada se insinua
E cresce ainda mais a sua ausência.
O raiar do dia é formado
Pelas diferentes matizes e nuances
Da falta que você faz em minha vida.
O dia vai nascendo lento e suave
E junto com ele nasce mais saudade,
De certo que ao meio dia,
O sol e a sua ausência
Ocupam igualmente o mesmo espaço,
Em meu ser e em meu existir.
E ao cair da tarde quando o sol se põe
Percebo que a luz que iluminou o dia,
E que se igualava em dimensão à sua saudade,
Diminuiu na mesma proporção em que aumentou
A necessidade de sua presença.
Cada novo anoitecer é mais denso,
Pois, dia após dia, sua ausência
Torna-se mais e mais espessa,
E dia virá em que a luz do alvorecer
Será totalmente encoberta
Pela escuridão de sua ausência...


(Zuleide Zhu - Vol. 59 - Antologia CBJE)

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Teus Cabelos

Onde teus cabelos,
caídos nos olhos,
tornando-se ponte
para um outro sonhar?
Onde teus cabelos
caídos em cachos,
formando poemas
e um outro cantar?
Onde teus cabelos
criando espirais,
inspirando desejos
e vontade de amar?
Deixa que te afague
os cachos, e deles
componha as melodias,
para colorir teus dias...
Deixa que te acarinhe
as espirais, e delas
faça redemoinhos
a carregar teu sonhar...
Deixa que eu envolva
teus cabelos e
deles faça a estrada
para o muito te amar...
ZuleideZhu
(Das Coisas Muito...)


domingo, 18 de outubro de 2009

Saudades...

É o amor a mola mestre do mundo... Sob todas as suas formas e expressões, e hoje lendo um depoimento no orkut, sobre a morte de uma amiga, companheira minha e da autora do texto abaixo, não consegui deixar de me emocionar e resolvi deixar registrada esta declaração de amor... Existe o sentimento de amor, que nasce e sobrevive por si só, dentro de nós e independente de nossa vontade; mas se o sentimento puder ser compartilhado, dividido, vivenciado por aqueles que estão envolvidos por ele, então ele se tornará eterno, impregnará todas as células de nossos corpos físicos e espirituais, fará parte de nossa essência para sempre, também independente de nossa vontade, em quaisquer situações, espaço ou tempo em que vivermos, porque a vida é muiito mais do que enxergam nossos olhos...

"Hoje meu anjo da guarda ganhou asas... Mas sei que não voou pra longe... Apesar da distância de agora, um sentimento acalma... Acho que quando o amor é muito forte imprime uma marca na alma que nada apaga. Nem distância, nem nada.
E não é amor de quem diz "Eu te amo". Não é do dizer. É do acordar todos os dias, todos os dias durante 24 anos para fazer meu café da manhã, é de me cobrir todas as noites, de trazer remédio e uma colher de açúcar todas as vezes de febre, dor de garganta, resfriado, cólica... De correr para esquentar o jantar antes mesmo de eu entrar em casa. De ligar pra saber se vou demorar. De ligar no meio da semana para falar que está com saudade. De cuidar de mim e dos meus gatos. De nunca ter me chamado de bagunceira apesar de toda a bagunça (e não é pouca). De levar à escola quando eu não podia ir sozinha. Ir às reuniões. Levar no dentista para trocar o braquete quebrado. De me confiar os cuidados de suas unhas, cabelos, sobrancelhas. De gostar da minha companhia sexta à noite comendo pizza. De dormir de conchinha enquanto cabia. De me lembrar de levar uma blusinha e um guarda chuva. E um lanche. E a chave. De dividir o mesmo quarto por 17 anos. O mesmo banheiro por 24. A mesma vida pela vida toda. A única vida que conheci você sempre esteve nela. Sempre de perto, muito perto. É amor de muitas, muitas, muitas e muitas demonstrações que não cabem aqui, de doação de alma. Amor eterno. Tem uma marca impressa para sempre. Na minha personalidade, caráter e felicidade. Te agradeço muito por toda dedicação e amor que eu recebi. Amo você."
Texto escrito por Daniela Espinossi Agostinho para sua avó Ziolinda

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Ser professor

Podes ensinar a escrita, o número e a palavra,
Podes mostrar como deslizar e sonhar pelos mapas,
E como transpor as barreiras do tempo através da história.
Ou podes ainda ensinar as passagens secretas

Para resolver uma expressão ou resgatar uma memória.
Podes equilibrar uma fórmula, classificar uma solução,
Mas equações não resolvem a incógnita da vida,
Palavra nenhuma descreve toda a miséria da humanidade,
E fórmula alguma contém a magia da felicidade.
Todos os saberes serão dignos e importantes
E todos podem ser igualmente fundamentais,
Mas nenhum deles terá verdadeiro e real valor
Se não contiverem em si a marca indelével do amor...


ZuleideZhu

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Experiências

Intransitável é o caminho não percorrido. Inesquecível é o que nem o tempo e nem a distância afastam do coração.
Impossível é o amor não compartilhado, não vivido, não repartido, não dividido.
Algumas situações são contingências da vida, para elas bastam os olhos, talvez um pouco da mente, simplesmente passamos por elas, em nada nos influenciam nem sequer acrescentam, fazem com que nos sintamos vivos enquanto estamos provando dessas cores, desses sabores, mas deixam sempre um estranho e amargo vazio.
Outras vivências são insubstituíveis e também intransferíveis, teremos que vivê-las, querendo ou não, estas serão indeléveis, nos marcarão para sempre, pois trazem sempre o sabor do quero mais e do eterno, satisfazem nosso corpo e também nossa alma.
Para vivenciá-las basta apenas fechar os olhos, despojar a mente dos preconceitos, do tradicional, da rotina, soltar-se, voar e deixar-se guiar pelo coração...

ZuleideZhu

Tempo

O tempo urge então não percas tempo com quem para ti não tem tempo, e não está tempo algum disponível, para passar algum tempo contigo.



Por mais lindas que sejam as estrelas e por mais que as amemos, elas estão longe, são inacessíveis, não nos pertencem, não nos enxergam e nem sabem nada de nós. Então é preciso ter coragem e vontade para abaixar o olhar, soprar ventos fortes com o coração para dispersar as névoas da ilusão e enxergar as luzes que iluminam nosso chão, para que elas possam nos auxiliar clareando nossa estrada e alegrando nossa vida.
É preciso estar com quem quer e precisa de nossa companhia.
É preciso amar quem nos ama e deseja o nosso amor.
Não podemos alimentar quem não tem fome, nem dar livros para aquele que não sabe ou não quer ler.
Entender isso é aprender as necessidades do outro e de nós mesmos, é conhecer e aceitar o outro, é aprender a amar...

ZuleideZhu

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Constatação

O brilho da lua no céu
Faz meu peito pulsar
E minha mente, incoerente,
Sozinha põe-se a sonhar,
Quanto podia ter te amado
Sob a argêntea luz do luar

E se, por acaso, o frio do chão
Em teu corpo penetrasse
O calor de meu corpo evitaria
Que teu coração congelasse
E teus doces olhos permitiriam
Que mais e mais eu te amasse

De um amor forte e capaz
De liberdade e escravidão,
Doce, selvagem, ardente,
Sem rotina ou obrigação,
Que te fizesse livre n’alma
E prisioneiro de meu coração


Meu amor não te cobraria
Constante presença ou prisão,
Nem faria da indiferença
Motivo de triste aflição,
Apenas sobre ti derramaria
Enxurradas de terna paixão...


E meu amor, de teu corpo faria
Brinquedo de alegre criança,
Descobriria todos os porões,
Recantos cheios de esperança,
Amar-te-ia em todos os cantos,
Deixando meigas lembranças

E quando uma nuvem no céu
Escondeu a fria luz do luar,
Minha mente pode enfim
Tristemente constatar,
Que de nada vale este amor,
Pois é outro o teu sonhar...
ZuleideZhu
(Das Coisas Muito...)

Espera

Hoje você não veio
Trazer poesia
A noite está vazia
A lua chamava,
Chorava seu nome,
E eu também...
A lua se foi,
Você não veio,
Poesia murchou
Como murcham
Todas as flores
Deixando no ar
Cheiro de saudades...

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Um cão e eu


Andavas e na dança de teus quadris os ossos provocavam um triste e estranho balanço... Lembravam a mãe balançando o berço do filho ausente... Teu porte era belo, mas o corpo esquelético perdia a vivacidade que deverias ter pela tua idade. Assemelhavas-te a um velho solto na tristeza dos momentos não vividos. Tua fome era transparente e fazia de teus olhos, faróis da miséria do mundo naquela calçada em que, esperançoso, procuravas com teu focinho, no chão seco e estéril, alguma coisa para saciar tua fome...
Com a inocência e a pureza de uma criança teu olhar pousou sobre mim e fui invadida por uma estranha e forte sensação de amor, a alegria com que me fitavas transcendia teu corpo e exalava felicidade ao teu redor, e fiquei marcada pela doçura e cumplicidade deste teu olhar...
Percebi tua fome e pensei em comprar-te um pastel, mas algo impediu-me deste ato.
Só depois, do muito pensar sobre ti e sobre tua figura, é que percebi que na verdade, o que me impediu de dar alguma coisa para alimentar teu corpo foi estar tão faminto quanto tu estavas...
Tinhas fome no corpo e eu tinha fome na alma...
Tinhas fome de pão e eu tinha fome de amor...
Mas cada um de nós, dentro da nossa realidade, estava igualmente carente, faminto e miserável. Neste instante pensei afinal, qual de nós dois era enfim, mais humano... Eu, que fui incapaz de dar-te o alimento para o corpo, ou tu que alimentastes minha alma apenas com um olhar...

sábado, 3 de outubro de 2009

Cavaleiro

Cavaleiro eterno, errante, amante...
Não imaginas a importância
Que tens em minha vida...


És meu príncipe louco e encantado,
De outras eras, outros ares, outros tempos,
Trazendo-me sonhos, em seu cavalo alado,

Rompendo muralhas, mares e ventos...


Mas és também meu doce herói armado,
De escudos, de lanças, moinhos e espada,
Libertando meu coração atormentado,
Livrando minh’alma em si mesma acorrentada...


E és também menino, criança doce e inocente,
Brincando com as mãos, maroto sorriso,
Buscando com o olhar o carinho e o indecente
Despertando em meu ser o prazer e o riso...


E é mais, és meu guru, meu mestre, meu guia,
Quando com tuas falas, convictas e certeiras,
Desarma-me com falas, versos e poesia, e
Quais flechas mortais, abalam minhas certezas...


És homem que no êxtase me traz a eternidade,
E transforma meu corpo em luz, em flor, em pó,
E no som do amor, me conduz à realidade,
Prendendo-me ao teu ser, num firme e eterno nó...


És tudo, és nada, és procura e saudade,
És tristeza, és inspiração, és porto e cais,
És encontro, és separação, és mentira e verdade,
És sombra, és luz...És muito e muito mais...

O impossível só o é, enquanto não acontece,
E não digas que amor assim não existe,
Não desacredites do que tua mente não conhece,
Nem sequer duvides do que ainda não viste...

Não descreias daquilo que teu coração não viveu,
Não desdenhes do que tua alma ainda não se recorda,
Não desconfies tampouco do que o poeta sentiu,
Nem penses que se vive, apenas quando se acorda...


O desconhecido é inominado e poucos o conheceram,
E a este sentimento lindamente chamaram amor...


ZuleideZhu
(Das Coisas Muito...)


Bastarda

Minha poesia é tua filha...
Bastarda, é verdade...
Filha da dor, da agonia,
Da tristeza e da alegria...
Talvez te ponhas a pensar...
Atrevida, que vem assim,
Sem autorização se apresentar...
Mas calma, ela nada pede,
Nem o teu amor, sequer o teu olhar...
Talvez permaneça obscura e
No ostracismo, e nem irá te incomodar...
Mas quem sabe, no futuro,
Qual filha pródiga, ainda irá te orgulhar...
Porém de qualquer forma,
E seja o destino que for,
Ela é tua filha,
E acima e antes de tudo,
Filha legítima do amor...


ZuleideZhu
(Das Coisas Muito...)

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Cristalização

Dia desses
Amor assim há de se
Cristalizar no peito...


Tornar-se-á pedra talvez!
Tamanha intensidade
Tanta paixão
Tão grande força
Energia em expansão
Para pouco espaço
Dentro de um coração...


Dia desses
Tanto amor há de
Cristalizar-se no peito...


Tanta tristeza
Enorme saudade
Tua ausência infinita
Tal a infelicidade
Desejos de teus beijos
Vontade em suspensão...
Tornar-se-á porventura carvão?
Ah!... Certamente que não...


Dia desses
Tanto amor há de
Cristalizar-se no peito...


Ah! E o brilho de teus olhos,
E a luz de tua alma,
Mostram que num mágico
E maravilhoso instante,
Transformar-se-á todo este
Amor em lindo e raro diamante...


ZuleideZhu
(Das Coisas Muito....)