sexta-feira, 11 de junho de 2010

Um vulto e teu rosto





Um vulto e teu rosto





Teu é meu bom dia

E o doce chocolate 

Que meu olhar enxerga
Na vitrina da saudade
Teus são todos os meus sonhos 
Os bobos e os mais secretos
E o sorvete suave e macio
Tentando fazer do sonho
Um acaso real e concreto
Teu é o pulo de meu coração 
Quando em meu caminho 
Um vulto lembra teu rosto
Que vejo em meio a multidão
Teus são meus pensamentos
Pois o amor aninhou-se em meu peito
E nele se faz presente
Em todo e qualquer momento

Causalidade


Causalidade

Agora neste exato instante,
Em que lês estas palavras
Um corpo voa e se esfacela
Tingindo de rubro vivo
O concreto cinza que o recebe
Um louco pede, pede e pede
Nascem milhares de seres
Por sob e por sobre o mundo
Morre, na alma e no coração, 
O desejo de um corpo vagabundo
Alguém, embora livre, que fugir
Uma flor, indecente, se insinua ao sol
Quer ser fruto, quer parir
Uma planta morre de sede
Um animal morre de fome
Se esvai o sêmen de um homem
Agoniza uma doce esperança
Uma mulher geme em gozo
Se contorce e explode em êxtase
Morre, abandonada, uma criança
E nada, absolutamente nada,
Faz diferença alguma para o mundo, 
Tampouco para a inflexível vida
Que segue impassível e inexplicável
Com passo firme rumo ao não sei onde
Lançando ao solo nosso sonho moribundo

Palavras de Amor



Palavras de Amor





Sou independente de minha vontade 
Tomada por um sentimento intenso
Que não se queda ante as agruras da vida
E não esmaece diante do rigor do tempo
Emoção eterna no vibrar constante do coração
Diante de um simples toque de tua mão
Alma contente ao vislumbre de tua imagem
Amor latente e sempre presente
Na tua ausência só morta paisagem 
Apenas escuridão na solidão de palavras
Que meus ouvidos atentos não ouvem
Pois tua boca nada pronuncia
Palavras que minha alma balbucia
Numa prece muda e solitária 
Ao Deus das noites e dos dias



quarta-feira, 9 de junho de 2010

Promessa



Promessa


Calma... Nada é para já...
O amor é eterno e infinito
A verdade mesmo,
É que o tempo não existe
E quando acordarmos
O vento do amanhã
Abrirá seus olhos e verá a nós
E quando despertarmos
O espaço infinito
Abrirá seus braços e nos arrebatará
E quando estivermos
Despertos e lúcidos
Verei a luz de teus olhos
E te reconhecerei na imensidão
De todos os outros olhos
Porque minha alma conhece a tua
Dentre todas as almas
E ainda assim te amarei
Mesmo que continues ausente
De meu tempo e de meu amor

Encontro na madrugada













Encontro na Madrugada

Estacionou o carro defronte sua casa com a certeza de que aquela seria 
uma sexta feira diferente. Vagarosamente entrou em casa e quando 
beijou sua esposa, sentiu apenas o gosto da rotina estática, e 
novamente pensou que a noite haveria de ser diferente, haveria 
de ser recheada por uma mudança radical. Já sabia todas as falas 
e as discussões que se sucederiam, desde a escolha do sabor da
pizza (que sempre acabava no mesmo pedido) como também da 
disputa entre os filhos, sobre quem usaria o seu carro naquela sexta 
de baladas sempre imperdíveis. Subiu a escada ao som da voz da 
mulher indagando o sabor que comeriam naquela sexta feira e 
simplesmente ignorou sua indagação e ao abrir a porta de seu 
quarto ouviu o início das falas entre os filhos sobre quem iria onde. 
Fechou a porta, jogou o celular e os cigarros sobre a cama, retirou o
relógio de pulso com cuidado – seu grande e fiel aliado – e sentou-se 
na cama macia. Pensava absorto na noite que se iniciava quando foi 
banhado por uma torrente quente, forte e farta, que inundou 
vigorosamente sua cabeça, desceu pelo seu corpo abaixo e 
instantaneamente teve uma vontade enorme de sair correndo. 
Ouviu novamente os chamados da esposa, dos filhos e 
instintivamente correu, abriu a janela, pulou a sacada, o muro, 
alcançou a calçada, surpreendendo-se consigo mesmo pela 
agilidade que sequer imaginara possuir. Só queria fugir. Só queria 
correr. Do meio da rua ouvia os gritos altos e nervosos da mulher 
chamando seu nome, e quando um vizinho abriu a janela, atraído 
pelos gritos de sua esposa, disparou ladeira afora. Corria ao lado 
dos muros do cemitério, que tantas vezes observava no seu caminho 
de ida e volta de casa, passou pelas praças, alcançou avenidas, não 
sabia para onde, nem sabia o por quê, mas precisava correr e fugir... 
Enquanto corria lembrava-se de sua vida, de sua infância, como num 
filme compassado com sua corrida, revia os momentos bons e ruins, 
e corria ainda mais... Sentia-se triste, confuso e corria... Sentia-se 
perdido e corria ainda mais... Correu, perdeu a noção do tempo, 
não sabia onde estava... Pensava e buscava... Num determinado 
instante parou e sentiu que era preciso voltar. Estava confuso e atordoado. 
A mesma força misteriosa que impulsionou sua fuga, agora o arrastava 
de volta. Não queria, mas sentia que precisava voltar e se encontrar. 
Enquanto corria de volta, pensava nesta estranha resistência física que 
não imaginava possuir e alegrou-se. Por um instante parou e perguntou
as horas para o moço parado no ponto de ônibus, que não respondeu e 
sequer moveu seu rosto para olhá-lo. Voltou a correr, pensou que devia 
estar com uma péssima aparência, pois quando indagou novamente que 
horas eram para dois rapazes que vinham em sentido contrário ao seu, 
também foi completamente ignorado, mas não ficou muito irritado, pois 
já estava quase chegando e ainda trazia em si, como causa maior, a 
angústia de encontrar a si mesmo. Correndo ainda, deduziu que já era 
quase manhã, a madrugada estava morrendo, pois os primeiros clarões 
no céu anunciavam o raiar do sol... Estava quase chegando... Estava 
voltando sem encontrar o que saíra para buscar. Ao se aproximar do 
cemitério que antecedia o quarteirão de sua casa, vislumbrou muitos 
vultos conhecidos e momentaneamente sentiu-se culpado. Sabia 
instintivamente que algo acontecera e justamente ele, sempre atento, 
zeloso e prestativo, não esteve ali para ajudar... Começou a perceber 
por que tinha corrido... Alguém havia morrido e ele havia fugido... 
No saguão examinou com o olhar todas as salas mortuárias e numa 
delas viu seus filhos abraçados e tristes ao lado de um ataúde, 
procurou pela esposa e nada encontrou... Sentiu um tremor profundo, 
mas armou-se de coragem e entrou na sala. E eis que viu a si mesmo 
deitado e imóvel dentro do ataúde, percebeu a palidez de seu corpo 
ladeado por flores coloridas, sentiu a delicadeza do fino véu a cobrir 
seu rosto, percebeu a presença da esposa chorosa sentada ao lado 
de outras flores, e num lapso instantâneo de tempo respirou 
profundamente... Finalmente encontrou a si mesmo e entendeu 
o que buscava... Estava em paz...