domingo, 30 de maio de 2010

Tatuagem


Embalem a noite
Encubram o dia
Teu será meu pranto
E tua a minha alegria

Prendam os ventos
Desfaçam a tempestade
Tuas serão as lembranças
E tua a minha saudade

Amordacem os cantos
Destrocem a poesia
Tuas serão minhas noites
Teus serão meus dias

Convertam o espaço
Aprisionem o tempo
Serás soberano
Em todo momento

És amor eterno e perfeito, 
Vestido em poema e flor,
Pois o infinito te tatuou 
Em fogo e amor 
Sobre meu peito...


CHEGADA

E quando tu chegas,
O sol brilha mais forte,
As partículas de luz
Pululam, pulam e dançam,
Na tua presença...

Então a dança da alegria,
Do amor e da felicidade,
Explode e se apresenta,
Feito bailarina em palco
E chão de estrelas...

E o dia ganha cor,
E a cor ganha sonho,
E o sonho ganha poesia
E a poesia ganha vida,
E a vida ganha eternidade...



segunda-feira, 17 de maio de 2010

São Paulo ainda é poesia...


São Paulo ainda é poesia...

A Virada Cultural em São Paulo não foi só de lazer, arte e cultura... Foi também virada de copos, de latas e latas de cerveja, de garrafas de vinho e de vodca arrebentadas e espalhadas pelas calçadas, fazendo com que a cidade recebesse em seu solo na madrugada de domingo, não só os costumeiros habitantes que fazem do chão da cidade seu colchão diário, mas também aqueles que pela primeira vez deitaram em suas calçadas, tombados pelo cansaço, pelo álcool e pelos excessos. Nos arredores da Avenida São João, o traje negro vestido pela maioria dos que por ali adormeceram, fazia com que as pessoas amontoadas umas sobre as outras, se assemelhassem a sacos de lixo empilhados pelas laterais das paredes e nos cantos das ruas. A cidade acolheu a todos, que indiferentes à sujeira, aos restos de comida, de vômitos e de urina, dormiram. O frio da madrugada não impediu-lhes o sono justo. Ânimos exaltados, discussões e empurrões espalhados por todos os cantos da cidade também fizeram parte da Virada, mas apesar disto tudo venceu a alegria espelhada nos rostos das pessoas cantando e dançando por toda a cidade; o calor da música aqueceu os corpos que se desvencilhavam das blusas e camisetas ignorando o frio da noite; venceu a pluralidade dos cantos e dos sons que encantaram os seres de todos os gostos e de todas as raças; venceu a diversidade das pessoas, das tendências e das liberdades; venceu a criatividade da acrobata rubra suspensa na noite de São Paulo espalhando “estrelas” brilhantes por sobre a cabeça e o sonho das pessoas; venceu a nostalgia chocalhando nos vagões do Trem das Onze, cantando Adoniran... A Virada não foi apenas o Trem das Onze, foi o Trem da noite inteira, o Trem da memória e das histórias, o Trem da poesia...

domingo, 9 de maio de 2010

Soberania


Soberania

Levanto-me e antes que a rotina diária me envolva
E, com seus dentes ávidos me destroce, lembro de ti...
E te dou Bom Dia, de forma que me pergunto
Se não serias minha maior e mais obstinada rotina.
E antes que o cinza da primeira fumaça de alcatrão
Se mescle aos pulmões e ao meu coração, penso em ti...
E divagando me questiono se não serias então,
O maior e o mais letal de todos os meus vícios.

Corro, paro e caminho na louca guerra do ser
E na luta diária entre o ter e o sobreviver
Vejo-me impregnada pelas tuas lembranças,
És soberano, em tudo o que penso e no que faço e,
Te sinto nos olhos e nas vozes do velho e da criança.
E me interrogo se o te esquecer não seria então
A maior e mais cruel batalha que tenho que enfrentar
Nesta selva feroz de uma existência vã e insana.

E quando anoiteço saturada pela tua saudade,
Envolta na memória de teu olhar e na poesia de teu nome,
Tão vívida é a tua imagem em minha mente,
Tão real é a tua presença nos vãos da nostalgia,
Que nem sei divisar o que é fantasia tampouco realidade,
Mas com a convicção que o teu existir ocasionou
Prenúncios da imensidão e a certeza do eterno.
E por fim, diária e docemente, dou-te Boa Noite e adormeço
Sem saber se subirei aos céus ou descerei ao inferno...


Trajetória de solidão


Cresceu ansiando pelo amor. Como menino-homem sentiu suas primeiras nuances e suas primeiras palpitações, aqui e acolá e numa menina flor descobriu a intensidade do sentimento que buscava, mas desencantou-se com as páginas do caminho da menina-flor-mulher.
E tanto foi seu desencanto que resolveu caminhar só, na sombra da menina-flor-fruto-mulher e caminhando encontrou novamente luzes do amor, piscando em vários pontos de sua estrada. E numa destas luzes encontrou um amor diferente, forte, profundo, sem flor, maduro distante de um tempo perdido nas memórias de vidas vividas, e mergulhou na seiva desse amor... Desencantou-se, faltava a flor da menina e então buscou-a... Perdeu-a... Voltou inexplicavelmente às profundezas do outro amor, mas novamente afastou-se e decidiu-se conscientemente pela solidão...
Escolha clara, consciente e racional... Viveu o tempo... Vez em quando recebia sopros do amor profundo, mas mesmo durante as ausências de sopros e letras, sua presença não lhe fazia falta, embora soubesse-lhe a existência e o fervor... Era tempo de vida, de buscas e experiências, tempo de andar. Sentia a força da vida a impulsionar-lhe os passos, bebeu das águas do centro da terra, colheu as flores de anjos, voou acima da chuva, caminhou pertinho do céu e junto da terra, andou em campos de paraíso, bebeu das letras e línguas dos homens, dos símbolos e imagens das máquinas, dos sons e cantos dos anjos, que transformavam o presente eterno num flash instantâneo do tempo, beijou das bocas doces e das amargas, amou de corpos suados, sonhou de pueril e doce inocência... E foi a ssim por todo o tempo alimentado por algo que perpassava o tempo, transpassava a carne e alimentava a alma.
Mas todo caminho tem fim, paradas, pousadas, e se foram as paradas, as estradas, o vivenciado ou as andanças, o certo é que subitamente sentiu-se cansado, e deu-se conta que estava faminto de algo que antes o alimentava e que já não sentia mais... Não conseguia definir o que sentia, faltava-lhe coragem, ânimo, vontade ou talvez simplesmente o desinteresse pelos andares tantos e colheitas fartas... O fato é que a sua solidão sentiu saudades e resolveu voltar e buscar a fonte... Encontrou apenas terra, uma lápide e algumas pedras geometricamente colocadas para adornar o ponto final do amor.


Solidão








Solidão

A solidão é animal astuto e faminto
Não importa se te cobres com um manto
Se estás sob os lençóis ou num convento
Ela te encontra em qualquer momento

Não importa se estás envolto pela multidão
Se estás só, bem ou mal acompanhado
Ela fará de ti meigo refém e servil escravo
Ignorando teu grito ou teu triste lamento

A solidão, fatalmente, vai te encontrar
Numa esquina insana e distraída
Num beco inconfundível e sem saída
Ou no cálice de uma festa divertida

Com seu faro de fera perspicaz
Ela se esconde em penumbra e sombra
E de nada adianta caminhar nas trevas
Se até na luz ela sempre te encontra

Sorrateira, ela te segue os passos
Ouve tua voz, teu grito ou teu sussurro
E te fareja de qualquer maneira
No eco surdo de teu peito escuro

Inútil fugir, lutar ou em vão debater-se
A solidão, impávida, vence a batalha
E impassível, ganha sempre todas as guerras
Transformando-se em teu véu e em tua mortalha