segunda-feira, 28 de setembro de 2009

A pedra e Drummond

E eis que, inesperadamente, ele pôs
Uma pedra no caminho da poesia
E ninguém mais andou direito
Diante de tão inusitado ato
Na estrada do poetar,
Dali para frente, querendo ou não,
Uns seguiram com uma pedra no sapato
Revoltados, outros, ao ver a pedra retornavam
Alguns, perdidos, em torno dela giravam
Houve decerto uns poucos,
Que, ofendidos, pedras e pedras atiraram
Mas impossível negar-lhe o dom transformador
E a pedra criou vida, cresceu, cresceu e brilhou
Na verdade transformou-se montanha
Pela grandeza de seu criador
Zuleide Zhu
(Poemas Dedicados - CBJE Outubro/2009)

Missiva

Queria mesmo escrever-te
Só ao final de minha vida,
Mas não posso... Não sei quando morro
Se hoje... Se amanhã...
Pois o tempo é mudo, a morte é calada,
E a vida, uma cúmplice fiel,
Imita-lhes, lealmente, o ato
Então escrevo já, escrevo agora
Pode não haver futuro
E já não há o outrora...
Somente a incerteza vaga errante,
Em disparada, louca e cega,
Carregando-me pela vida afora
Então é fundamental que saibas
Que não existiu sequer um riso
No qual não estivesse contido
O doce brilho do teu olhar
E nem existiu olhar algum, que igualmente
Não refletisse a alegria de teu sorriso
Não houve nenhuma lágrima caída
Que junto também não chorasse
A tristeza pela tua ausência
Melhor então registrar agora,
O que minha alma nunca irá esquecer
E que independe do tempo,
Entre a minha morte e o meu viver
Aquilo que em nada irá se alterar
E que se resume simplesmente,
Em sempre e sempre te amar.


ZuleideZhu
(Antologia CBJE - Vol. 58)

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Reflexos

“Os olhos são o espelho da alma”
E se visse além do espelho?
E se visse além do que o espelho mostrava?
E se visse além do que o não refletido mostrava?
Às vezes enxergava o amor no olhar do outro
Poderia jurar que via, contudo a imagem não era real
Era simplesmente o reflexo de seu próprio olhar

“Os olhos são o espelho da alma”
Novamente fazia do olhar do outro seu espelho
E enxergava o amor no brilho de outro olhar
Descobriu que era míope para ver o mundo e o amor
Nos olhos do outro só enxergava apenas distorções

Imagens virtuais do outro ou de seu próprio olhar


“Os olhos são o espelho da alma”
Decidiu não olhar e sequer confiar em espelhos
Espelhos são apenas instrumentos imperfeitos
Que refletem apenas o que se quer e o que se pode ver
Nunca refletirão o que não existe, o que não se quer ver
Ou aquilo que não deve ou não pode ser visto
Quebrou todos...
Um a Um...
Ficou cega...


(ZuleideZhu)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Necessidade


Não precisam ter rimas
Os versos para o meu amor
Nem precisam ser épicos,
Elegias ou hinos de louvor
Não é preciso que falem
De sonhos, alegrias ou dor...

Não é necessário ter classe,
Ou gênero classificado
Não importam as estrofes,
Tampouco o estilo literário,
Nem é necessário que se use
Amplo e culto vocabulário...

Basta apenas que demonstrem
O quanto lhe tenho saudade,
Basta que através de palavras
Ele entenda que toda verdade
Resume-se em querê-lo e amá-lo,
Agora e por toda a eternidade...


Zuleide Zhu
(Das Coisas Muito...)

Querer

Queria...
Queria-te perto de mim,
Tocar teus lábios com calma,
Sentir tua pele, teus cheiros,
Ter teu calor aquecendo e envolvendo
Meu corpo e toda a minha alma...

Queria...
Queria-te agora perto de mim,
E beber toda a tua melodia,
Sorver teu néctar, tuas cores,
Ter tua carne alimentando e nutrindo
Meu ser e todas minhas poesias...

E queria mais...
Queria ser tua musa,
Tua alegria e tua inspiração,
Ser teu universo, tuas rotas
E queria teu ritmo embalando
O meu ritmo e o meu coração...

E queria ainda...
Queria ser tua saudade,
Teu desejo contido, tua insensatez,
Ser sôfrega e voraz presença,
E que aspirasses pelo meu encontro
Ávido, com ânsia e prazer...

E finalmente queria...
Queria de volta minha liberdade,
Minha sanidade e a minha razão,
Que perdi no túnel de um tempo,
Quando sem perceber permiti
Que nascesse em mim tanta paixão!
Zuleide Zhu
(Das Coisas Muito..)

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Composição

E tudo que escrevo, escrevo para ti...
E tudo que escrevo vem de ti...
E tudo que escrevo é por ti...


E para que escrevo?

Se nem tomas sequer conhecimento
De minhas palavras, se não lês o que
Por ti e para ti, escrevo em poesia...


Se ignoras total e completamente
Todo o conteúdo das poucas linhas
Que nascem e crescem, e que a ti dedico...


Se nem te importas ou te emocionas
Com o que me vai ou vem da alma?
Se não lês, não respondes, não te interessas?


E por que escrevo?


Para que este sentimento
Não me envenene o corpo,
Nem me destrua a alma!


Para que este desejo contido,
Não corrompa minha mente,
Nem enlouqueça minha razão!


Para que este imenso amor,
Não me carregue para a morte,
E me direcione para a vida!


Por isso escrevo...

Zuleide Zhu
(Das Coisas Muito....)

Esquecimento

Se pensas que te esqueci,
Esquece...


Esquece, pois esquecer de ti
É esquecer de mim mesma,
É perder-se dentro de mim,
Dentro de minha mente e de meu saber...


Esquecer de ti, é esquecer
Minha alma, meu ter, meu viver
É perder-se nas memórias vivas e mortas
De meu ser eterno e imortal...


Esquecer de ti é esquecer os
Tempos idos, vindos e vividos
Que fazem parte de minha memória
De meu percurso, de minha história...


Esquecer de ti, é esquecer
O mistério do amor, o segredo da eternidade,
O milagre da vida, a mágica do tempo,
O tempo do sonho e da realidade...


Se pensas que te esqueci,
Esquece...

Zuleide Zhu
(Das Coisas Muito...)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Contramão

O impossível fez morada
Em meu coração
O indelével trouxe você
Pra dentro de minha mente
O inesquecível forjou sua
Imagem em minha alma
E ausente disso tudo
Você caminha solto
Na roda do mundo,
Na rota da vida,
Na contramão do tempo
E da minha estrada...


Zuleide Zhu
(Das Coisas Muito....)

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Chaveiro

A bússola de minha vida
Perdeu-se...
Onde está o norte
Que me deste tão suavemente?
Onde está o rumo
Que mostraste tão serenamente?
Onde a direção
Que pensei ter encontrado
Nas rotas de teu olhar?

A bússola de minha vida
Perdeu-se...
Onde está a luz
Que teu farol iluminou?
Onde encontrar o caminho
Que tua presença traçou?
Onde encontrar o destino,
Que julguei ter descoberto
Nas linhas de tua mão?

A bússola de minha vida
Perdeu-se...
Onde está o sonho,
Que teus gestos trouxeram?
Onde está a promessa
Que tuas palavras disseram?
Onde está o amor
Com o qual envolveste,
A chave de minha vida?
Zuleide Zhu
(Das Coisas Muito Mais...)


Hoje

A noite é saudade...
A lua cheia no céu
Minguava, prateava,
E como amiga partidária,
A sua luz não mostrava...
Pois ela mais que ninguém,
Conhece, e muito bem,
O quanto te espero sozinha...


A noite é saudade...
Quem beijava a boca
Que era minha?
Quem recebia o abraço
Que meu corpo esperava?
Quem ouvia o sussurro
Que tua voz recitava?
Quem acolhia o amor
Que minha alma ansiava?


Enganei-me também com a lua,
Pois quanto mais eu indagava,
Mais a lua se esquivava,
Soberba e pálida me ofertava
O brilho que só ela tem,
Mostrando que não diria
A mim e a mais ninguém,
Nos braços de quem tu estavas...
ZuleideZhu
(Das Coisas Muito...)


segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Solidão

E ouço tua voz
No burburinho de outras vozes,
E no sol dos meus dias,
Nas luas de minhas noites,
Te escondes entre as nuvens
Da minha saudade


ZuleideZhu
(Das Coisas Muito....)

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Oferenda

Poeta... Poeta...
De muitos sonhos e alma inquieta
De poucas falas, de boca quieta
Pois que poetas só falam
Com a alma e o coração
Poeta... Poeta...
Abre teus braços e toma este corpo,
A lua cheia o trouxe a ti
Assim exposto em verdade nua
E, como poeta bem sabes
Que nunca convém recusar,
A um desejo e vontade da lua
Faz deste corpo campo fecundo e
Colorido com as flores do teu gozo
E nele viva batalhas e vitórias
Para o castelo de teus prazeres
Não te preocupes, nada te prende
Ama, deita, rola e descansa
Faz dele soldado fiel e servil como cão
Ou o tenhas por gata doce e mansa
E nem te convém preocupares
Com este corpo e seu coração
Pois em nada o machucarás
Que neste corpo decerto que há vida,
Ele pulsa, vive, sente e dança
Mas a alma nele já não habita,
Foi-se há tempos levada
E junto a um coração atrelada,
Ao passar de um cavaleiro errante,
Presa para sempre, na ponta de sua lança...
ZuleideZhu
(Antologia CBJE)


terça-feira, 1 de setembro de 2009

Inconstância

Ando assim desconfiada
Que poesia e criatividade
São cíclicas e periódicas,
Como tudo que há na vida.
Vez em quando, feito mina,
Jorra verso, canto e poesia,
Passa tempo, e as danadas,
Não querem saber de nada,
Nem sequer me dão Bom Dia!
ZuleideZhu
(Das coisas muito...)