domingo, 9 de maio de 2010



Trajetória de solidão


Cresceu ansiando pelo amor. Como menino-homem sentiu suas primeiras nuances e suas primeiras palpitações, aqui e acolá e numa menina flor descobriu a intensidade do sentimento que buscava, mas desencantou-se com as páginas do caminho da menina-flor-mulher.
E tanto foi seu desencanto que resolveu caminhar só, na sombra da menina-flor-fruto-mulher e caminhando encontrou novamente luzes do amor, piscando em vários pontos de sua estrada. E numa destas luzes encontrou um amor diferente, forte, profundo, sem flor, maduro distante de um tempo perdido nas memórias de vidas vividas, e mergulhou na seiva desse amor... Desencantou-se, faltava a flor da menina e então buscou-a... Perdeu-a... Voltou inexplicavelmente às profundezas do outro amor, mas novamente afastou-se e decidiu-se conscientemente pela solidão...
Escolha clara, consciente e racional... Viveu o tempo... Vez em quando recebia sopros do amor profundo, mas mesmo durante as ausências de sopros e letras, sua presença não lhe fazia falta, embora soubesse-lhe a existência e o fervor... Era tempo de vida, de buscas e experiências, tempo de andar. Sentia a força da vida a impulsionar-lhe os passos, bebeu das águas do centro da terra, colheu as flores de anjos, voou acima da chuva, caminhou pertinho do céu e junto da terra, andou em campos de paraíso, bebeu das letras e línguas dos homens, dos símbolos e imagens das máquinas, dos sons e cantos dos anjos, que transformavam o presente eterno num flash instantâneo do tempo, beijou das bocas doces e das amargas, amou de corpos suados, sonhou de pueril e doce inocência... E foi a ssim por todo o tempo alimentado por algo que perpassava o tempo, transpassava a carne e alimentava a alma.
Mas todo caminho tem fim, paradas, pousadas, e se foram as paradas, as estradas, o vivenciado ou as andanças, o certo é que subitamente sentiu-se cansado, e deu-se conta que estava faminto de algo que antes o alimentava e que já não sentia mais... Não conseguia definir o que sentia, faltava-lhe coragem, ânimo, vontade ou talvez simplesmente o desinteresse pelos andares tantos e colheitas fartas... O fato é que a sua solidão sentiu saudades e resolveu voltar e buscar a fonte... Encontrou apenas terra, uma lápide e algumas pedras geometricamente colocadas para adornar o ponto final do amor.


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